Há alguns anos, os professores em exercicio na rede estadual já ouviam rumores sobre mudanças na rede, possíveis "agrupamentos" de disciplinas, mudanças de nomenclatura, o que deixou muitos profissionais preocupados. Na época, acreditava-se que um único professor seria responsável pelo "ensino dos conteúdos" desse determinado agrupamento, os quais hoje são conhecidos como, por exemplo, "ciências humanas e suas tecnologias", "ciências da natureza e suas tecnologias", "linguagens e codigos e suas tecnologias", "matemática e suas tecnologias". Especulava-se também que era uma medida econômica do governo. Os professores ficaram extremamente preocupados, com receio de perder suas aulas. Hoje, após ter um melhor entendimento a respeito da necessidade de superação da "disciplinarização", questiono-me se já não era um primeiro movimento rumo à necessidade de "ir além". E se a resposta for afirmativa, estávamos naquele momento sendo vítimas dessa "impossibilidade de enxergar o todo, visualizando somente a parte e supervalorizando-a.
A video-aula dois trata, principalmente, da superação da disciplinarização, já mencionada anteriormente, que ocorreu no meio científico por volta do século XVII, permanecendo ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX. Importante compreender o que Edgar Morin chama de "pensamento simplificador". O autor faz um estudo sobre a historia da ciencia e busca compreender o que grandes cientistas fizeram para estruturar a modernidade, paradigma de forma da organização da ciencia e do pensamento, que configurou o pensamento dos séculos citados. Mas o que esses autores fizeram na criação desse paradigma?
De acordo com Morin, três principios fundamentam o pensamento simplificador e garante "essa modernidade":
- DISJUNÇÃO - Separação entre os diversos tipos de conhecimento. Criação das disciplinas. (Para estudar um método, uma das caracteristicas para tornar o estudo mais simples, facilitar e ser mais eficiente no estudo dessa realidade, dessa natureza é o que se chama de disjunção. Separa-se o todo para estudá-lo em pequenas partes)
- REDUÇÃO - Do complexo ao simples, analisa-se a parte como se fosse o todo. Como consequencia da separação do todo em partes, tira-se a complexidade e busca-se uma simplificação desse corpo, a partir dessa disjunção, trabalhando com a redução. Isso é um risco: - redução do complexo ao simples; - analisar a parte como se fosse o todo, essa é a tendencia do pensamento simplificador.
- ABSTRAÇÃO- Gerou a matematização e a formalização da ciência. (São formas de organização do pensamento e da ciência, facilita a compreensao da coisas, as tecnologias tornam virtual o que é real) .
"O paradigma da simplificação trouxe a vantagem da divisão do trabalho, da produção de novos conhecimentos e a elucidação de inúmeros fenômenos. Permitiu ao ser humano tentar dominar e controlar a natureza, e foram inequivocamente eficazes para o progresso cientifico e para a melhoria das condições de vida da população entre os séculos XVII e XX (Edgar Morin)"Entretanto, para romper com a oposição entre a natureza e a cultura, quais os rumos que a instiuição educacional terá de assumir, se nao quiser sucumbir na inercia da fragmentação e excessiva disciplinarização, caracteristicas dessas ultimas décadas?
Estabelecer uma nova conexão? Rejuntar a parte e o todo? O texto e o contexto? O global e o planetário?
A partir do século XX, movimentos tentam superar a disciplinarização, que a ciencia provocou no conhecimento. Esses movimentos de superaçao recebem nomes de: transdisciplinaridade, multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, apresentando caracteristicas semelhantes, mas tambem algumas diferenças:
- TRANSDISCIPLINARIDADE - "Ir além". Refere-se a temáticas que ultrapassam a propria articulação entre as disciplinas, extrapola qualquer disciplina em si, como se fosse uma nova disciplina;
- MULTIDISCIPLINARIDADE - Ocorre quando a análise de um determinado fenômeno solicita o aporte de outras disciplinas para ser explicado, para explicá-lo. No entanto, essas disciplinas nao dialogam entre si. Cada professor faz sua parte, não existe diálogo entre as partes, entretanto já é considerado um avanço ante à disciplinarização.
- INTERDISCIPLINARIDADE - É um fenômeno comum a duas ou mais disciplinas de campos de conhecimento, mas em seu estudo, os participantes estabelecem diálogo entre si, os profissionais trocam idéias.
- Contextualização histórica: menciona alguma descoberta científica e a relaciona a algum fato histórico marcante, ou apresenta situações que reflitam relações entre ciência e sociedade |
VIDEO TV UNIVESP - complemento De acordo com o professor Nilson José Machado da FE-USP, a interdisciplinaridade surgiu como um chamado para que as disciplinas não mudassem seus objetos, mas que houvesse relações mais fortes entre as disciplinas. A realidade não é disciplinar, a escola é.
A reação à fragmentação discipinar, no curriculo escolar, foi a busca à transversalidade, temas que atravessassem transversalmente as disciplinas. A questao sobre valores, por exemplo, nao cabem em nenhuma disciplina em especial, mas atravessam todas, como colaboração e solidariedade. Começamos a ler o texto na escola, mas viemos para aprender a ler o mundo. A escola deve fazer essa ponte entre o disciplinar e o transdisciplinar. Estudar a disciplina para um determinado fim, é para especialista, é um meio para o educando, então vamos "além" da disciplina.
Transversalidade é a parte de um movimento que surge em contraposição a um jeito de organizar o pensamento, o qual surgiu no século XVII. Mas como chegamos a essa fragmentação e especialização da ciência?
René Descartes (1596 - 1650) - Filósofo que escreveu o discurso do método, é apontado como um dos pioneiros a "inaugurar" essa maneira de pensar.
"Descartes é uma concepção da unidade do conhecimento" - Pablo Rubén Mariconda (FE-USP).
A unidade do saber, essa unidade Descartes encontrava no método. "Método Científico" vem de Descartes, sem o método não há como chegar à ciencia, que é um único método, racional, de fazer análise e depois a síntese, não com os diversos fenômenos naturais. No discurso do método, acaba realizando o método, as quatro regras do método cientifico. Um fenomeno complexo é dividido em várias partes, analisa-se a partir das partes mais simples e reconstitui-se o fenomeno a partir do simples para o mais complexo. São regras, mas bem representativas do mundo moderno.
De acordo com o filosofo e sociologo frances EDGAR MORIN, o paradigma de simplificação, que domina o ensino e, para conhecer, separamos e reduzimos o que é complexo em simples, pode ser considerada uma visão mutiladora do conhecimento. O problema entao passa a ser conseguir obedecer um paradigma que nos permita diferenciar e relacionar, ao mesmo tempo. É justamente o paradigma que domina o conhecimento na nossa civilização e sociedade, é um paradigma que impede o conhecimento complexo, o conhecimento da era planetária.
Essa postagem será reformulada e complementada ainda essa semana.
Acrescento também link para um trecho de uma palestra interessante, o qual apresenta de forma resumida alguns dos conceitos abordados na aula 02
http://www.youtube.com/watch?v=lUHaYLv2ySo&feature=related