segunda-feira, 30 de agosto de 2010

AULA 01 - REVOLUÇÕES EDUCACIONAIS

    O QUE É SER PROFESSOR?

     Na graduação de cursos voltados à formação de professores, ao questionarmos os futuros educadores sobre o motivo que os levaram a optar pela profissão docente, muito provavelmente obteremos como resposta: "porque gosto de crianças".
     Surge a indagação: "Esta criança, idealizada pelos estudantes universitários, futuros educadores, é a mesma que encontrará em sala de aula, no exercício da profissão?"
     Há um risco muito grande em imaginar encontrar-se com crianças que se alimentam diariamente com qualidade, com pais escolarizados que os auxiliem nas tarefas, que frequentam médicos e dentistas com regularidade, adquirem todo o material escolar, viajam, têm acesso a equipamentos múltiplos de lazer, a escola não é sua única fonte de conhecimento letrado, em casa tem uma mesinha para estudar, com iluminação adequada, e descobrir que são minoria, na escola de hoje.
     A grande decepção ocorre quando descobrem-se despreparados para trabalhar com o público escolar majoritário, que apresenta um outro tipo de criança, aquela que nao se alimenta direito, que sua higiene é precária, que os pais têm uma escolaridade baixa ou inexistente, que nao possui recursos para o material solicitado, seus problemas de saúde não são acompanhados, raramente se desloca além de seu mundo imediato, estuda na mesa da cozinha, sem espaço e luminosidade.
     Importante salientar que, de forma alguma, me excluo deste grupo de professores e, certamente, compartilho das mesmas angústias. Não podemos cair no otimismo ingênuo de que a docência possui um caráter "messiânico", em que o educador assemelha-se a um sacerdote, o qual segue uma "vocação", muito menos nos deixa levar por um pessimismo ingênuo, que acredita ser tarefa primordial da escola servir ao "Poder", como instrumento de dominação, ao invés de atuar no âmbito global da sociedade, de modo a buscar e efetivar a justiça social.
     O tema das "revoluções educacionais" e a escola de hoje como a escola de antigamente, nos direciona à discussão do papel e a postura do professor. Qual seria o primeiro passo para a mudança? A aceitação da nova realidade? E qual seria essa nova realidade? A de que a sociedade atual, mesmo marcada pela necessidade de mercado, com a necessidade de escolarização de "toda a população", apresenta uma caracteristica diferente das demais, que é a "inclusão das diferenças", objeto de estudo deste curso.
     Após a terceira revolução educacional, datada de 1920, tornou-se impossivel conceber a educação pelo modelo anterior, em que uma minoria tinha acesso à educação e o professor era o único detentor do saber. A democratização do acesso e a universalização do ensino trouxeram consigo uma necessidade maior, a garantia da qualidade do ensino e esse é o grande desafio da educação na atualidade.
     Urge mudanças de pensamento e paradigmas educacionais. Para, de certa forma, ilustrar essa assertiva, transcrevo abaixo uma análise pessimista de Comenius sobre educação, escrita por volta de 1632, mas extremamente pertinente à nossa realidade atual:

"Desde há mais de cem anos, espalhou-se uma grande quantidade de lamentações sobre a desordem das escolas e do método, e, sobretudo nos últimos trinta anos, pensou-se ansiosamente nos remédios. Mas, com que proveito? As escolas permaneceram tais quais eram SE alguém, particularmente, ou em qualquer escola em particular, começou a fazer qualquer coisa, pouco adiantou: ou foi acolhido elas gargalhadas dos ignorantes, ou coberto pela inveja dos malévolos, ou então, privado de auxílios, sucumbiu ao peso dos trabalhos; e, assim, até agora, todas as tentativas têm resultado vâs (Comênio, 1995: 467-8)".
O QUE É SER PROFESSOR? - video